Peça 'A Ilha Desconhecida' terá duas apresentações gratuitas neste final de semana


Maycon Soldan/Divulgação

Por Naiara Lima

Baseada na obra homônima do escritor português José Saramago, a Cia. dos Náufragos traz a Piracicaba o espetáculo de rua A Ilha Desconhecida. Serão duas apresentações, uma no sábado (20), às 16h, na Casa de Cultura Hip Hop, e a outra no domingo (21), às 15h, no Casarão do Turismo (Rua do Porto). A entrada é gratuita. 

Tendo a busca humana pelo sentido do mundo como o principal tema, a peça mostra a jornada de um homem rumo à misteriosa ilha desconhecida.  Ele não sabe onde fica, mas acredita que irá reconhecê-la quando avistá-la. Em sua trajetória, enfrenta diversos obstáculos: um rei despótico e sua política de favores, ferozes burocratas, marinheiros incrédulos e uma inesperada companheira de viagem.

A Ilha Desconhecida é o primeiro espetáculo da companhia de Campinas (SP). Fundado em 2012, por ex-alunos do curso de Arte Cênicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o grupo compreende os atores Cristiane Taguchi, Miguel Damha, Renan Villela e o violonista, percussionista e compositor Rodrigo Lima. A direção é de Moacir Ferraz. 

Damha conversou com o PiaparaCultural sobre o espetáculo e também sobre o teatro de rua. Confira!

O que chamou a atenção do grupo em A Ilha Desconhecida, de Saramago?
Muitas são as questões que chamaram a nossa atenção nesse texto do Saramago. Apesar de se tratar de uma fábula, um conto fantástico, consegue tocar em diversos pontos do nosso cotidiano – a condição da mulher, o poder político, a corrupção etc. Em um primeiro momento, creio que é essa busca que ele propõe pela ilha desconhecida, esse lugar que o escritor não explica bem o que é nem como se chega ou onde fica, mas que que cria uma necessidade pulsante. Algo que brota dentro de nós e que nos impulsiona a sair do nosso lugar comum atrás de algo incerto. Acho que isso que nos motivou.

Maycon Soldan/Divulgação
Vocês colocam que a A Ilha Desconhecida é uma livre adaptação. O que tem do Saramago e o que resolveram mudar?
A narrativa e muitas das palavras são do texto do Saramago. No entanto, é um texto de difícil entendimento, pela diferença do português de Portugal e do Brasil e por se tratar de uma obra literária, que não tinha a fluência necessária para funcionar no palco – ainda mais na rua. Então, demos, por assim dizer, um tratamento teatral, incluindo cenas que não existiam, textos de outros autores e músicas, dando uma agilidade maior.

Qual é a frase do espetáculo que você considera mais emblemática ou que te toca mais?
Há tantas frases emblemáticas nesse texto... Porém, a que sempre parece tocar mais o público, e que as pessoas, depois de verem a peça, costumam postar no Facebook (também uma das minhas favoritas) é "gostar deve ser o melhor jeito de ter; ter deve ser a pior maneira de gostar".


Esse é o primeiro espetáculo da Cia. dos Náufragos?
Sim, é o primeiro da companhia, que vem tentando produzi-lo por cerca de dois anos. Anteriormente nós todos havíamos sido parceiros de cena em outros grupos, até decidirmos fundar a Cia. dos Náufragos. A Ilha Desconhecida foi produzida em torno de seis meses – entre pesquisa, ensaios, escrita dramatúrgica, fabricação de cenário e figurinos. Isso só foi possível graças ao nosso projeto ter sido contemplado na edição de 2015 do ProAC, porque, infelizmente, essa tem sido umas das únicas formas de se financiar a produção de arte aqui, no Brasil.

Por ser uma montagem de rua, a classificação da peça é livre. Porém, a montagem é voltada a alguma faixa etária específica?
A peça pode ser usufruída por todas as idades, com diferentes camadas de entendimento, pois também há bastante humor físico e jogos teatrais de fácil apreensão. Porém, por conta dos assuntos tratados, creio que a partir dos 14 anos já é possível ter um entendimento maior do que a narrativa propõe.

Por que escolheram a rua como espaço de trabalho?
Por duas motivações principais. A primeira é de ordem pragmática: a dificuldade que se tem para achar teatros adequados para apresentações. Lidamos no estado de São Paulo, e porque não dizer no Brasil, com um sucateamento da estrutura dos teatros, que ou não existem, ou estão despreparados para receber 90% dos espetáculos – ou ainda, são privados e cobram uma fortuna por uma pauta. Na rua, tendo um ponto de luz e interessados, está feito! Óbvio que não é tão simples, mas com certeza esse formato exige menos estrutura do lugar que vai nos receber. 

A segunda motivação é promover acesso às pessoas ao nosso espetáculo e, às vezes, possibilitar um contato inicial com o teatro. Afinal, se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé! Ainda falta uma política pública decente de formação de público, então estamos tentando somar com tantos outros grupos e fazer nós, por nós mesmos.

Maycon Soldan/Divulgação

Serviço

Espetáculo A Ilha Desconhecida, da Cia. dos Náufragos
Quando: sábado (20)
Horário: 16h
Local: Casa de Cultura Hip Hop
Endereço: Rua Jaçanã Altair P. Guerrini, 204 – Pauliceia
Grátis

Quando: domingo (21)
Horário: 15h
Local: Casarão do Turismo
Endereço: Rua do Porto (av. Beira Rio, s/n)
Grátis

Informações: ciadosnaufragos@gmail.com

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