Duo Wenzell & Bugge abre 2ª Mostra Sesi-SP de Música Erudita

Jakob Eskildsen/Divulgação

Por Naiara Lima

O teatro do Sesi Piracicaba recebe esta semana a 2ª Mostra Sesi-SP de Música Erudita. Com o tema A Música Pelo Mundo, o evento terá três espetáculos gratuitos que refletem a música ao redor do planeta – do Brasil, passando pela Europa até chegar no Japão. As apresentações acontecem entre os dias 25 e 27. Abre a programação nesta quinta-feira (25), às 19h30, os dinamarqueses do Wenzell & Bugge. 

O duo é formado pelo percussionista Ronni Kot Wenzell e o violinista Kristian Bugge. Ambos conheceram-se em um conservatório de sua terra natal. Mesmo sendo representantes de tradições bem diferentes, criaram o projeto a fim de misturar a música folclórica dinamarquesa com a percussão da música erudita. Seu repertório, porém, vai além e inclui obras que remetem ao folclore da Turquia, Canadá, América do Sul, Escandinávia, entre outros.

Ronni conversou com o PiaparaCultural sobre o duo.

Você deu aulas no Conservatório Brasileiro de Música, no Rio de Janeiro. Essa, porém, é a primeira vez que a dupla toca no Brasil. Como tem sido?
O Kristian está vivendo na Dinamarca e nos Estados Unidos e eu me mudei para o Rio de Janeiro há uns dois anos e meio. Antes eu morava na Dinamarca. Fazemos cerca de 60 shows por ano, o que é muito para apenas um projeto. Contudo, quando me mudei para o Brasil, ficou um pouco mais complicado de tocarmos juntos. Então, no ano passado, conversamos por telefone e decidimos nos apresentarmos por aqui. Um produtor no Rio de Janeiro nos conseguiu arrumar uma grande turnê para agosto de 2015 – exatamente um ano atrás! Fizemos nove concertos em seis dias – o primeiro foi duas horas depois de Kristian aterrissar no Rio e o último, uma hora antes de ele ter que estar no aeroporto outra vez!

Foi uma grande experiência! Nossa música nunca havia sido ouvida por aqui, mas os brasileiros são muito receptivos, interessados e têm um coração caloroso. E é claro, também temos muita energia no palco quando o público é maravilhoso, então, é sempre divertido tocar no país. Estamos bastante ansiosos por Piracicaba!

Vi que vocês tocaram recentemente no Rio de Janeiro. Como foi a resposta do público? Eles entenderam a música do duo?
Sim, fizemos – durante as Olimpíadas. Também foi uma experiência incrível! O público começou a aplaudir a música 30 segundos depois de começarmos a tocá-la, foi maluco! É claro que era durante os jogos e as pessoas estavam bem empolgadas, mas também acredito que a nossa música tem uma conexão especial com o povo do país.

Os brasileiros são muito "grounded" [sensíveis], como dizemos em inglês. São pessoais, honestos, abertos e bem ligados à sua cultura de raiz. Por exemplo, o samba é brasileiro e é um orgulho para a cultura do Brasil. Vocês celebram o Carnaval, brincam e dançam. Quase todos sabem como manusear um pandeiro, e até mesmo as crianças dançam samba. Isso é incrível, bonito e admirável!

Nossa música também tem raízes muito fortes. Vem das tradições da música popular (a qual servia para se dançar, há muitos anos) misturada com elementos da música clássica (também bem antiga). Sabemos que a música que sobrevive por anos e anos é boa. Então, em outras palavras, tocamos "velhos hits". Quando tocamos algo que, por exemplo, as pessoas dançavam há diversos anos, os brasileiros não conseguem ficar parados. O corpo começa a se mover e toda essa energia passa a borbulhar por dentro.

Há o vídeo de uma jam em seu Facebook. Estarão acompanhados em Piracicaba?
Acredito que o vídeo que está mencionando é o com meu grupo de percussão. O Ronni Kot Percussion Group foi criado no Brasil. O som lembra uma jam, mas na verdade é bem organizado, e cada nota é escrita. Apesar disso, não tocamos com partituras. Olhamos para o público e sorrimos – um dos objetivos de um músico profissional é fazer com que algo difícil pareça fácil, e sorrir. A música deve ser uma boa experiência para quem assiste. Ver e ouvir alguém tocando parecendo estar triste ou com dificuldades numa parte da composição, não gera um sentimento legal no público. Em Piracicaba, seremos somente o Kristian e eu. Mas prometo que não sentirão falta de nada!

Vocês trabalham com elementos do clássico e do popular. No Brasil, a música popular tem muita percussão e a origem africana. Como é a da Dinamarca?
É diferente. Se vocês têm muita percussão relacionada à música popular, na Dinamarca ela ligada, principalmente, às melodias/canções. E essas melodias eram tocadas em qualquer instrumento à mão, disponível. Poderia ser um violino, uma flauta, um violão etc. A música era usada mais para festas, durante o jantar, quando todos estavam comendo ou dançando depois. Então, é uma música bem alegre, assim como o samba.

Quando e por que começaram a tocar juntos?
Nós estudamos no Conservatório da Dinamarca. Rapidamente percebemos que tínhamos a mesma energia e nos tornamos amigos próximos. Depois de um tempo, começarmos a nos questionar se a nossa conexão também teria a mesma comunicação pela música, já que tocamos diferentes gêneros – o Kristian toca música popular e eu clássica. Então, passamos a tocar juntos.

Foi meio difícil no início, pois há diversas tradições sobre como tocar na música popular, assim como na clássica. Mas acabamos encontrando um caminho para misturar ambos os mundos.

Nosso primeiro concerto foi abrir um grande festival na Dinamarca, com 3 mil pessoas. A apresentação foi muito, muito boa e começamos a receber convites para tocar. Pouco depois, já fazíamos 60 shows por ano. Quando me mudei para o Brasil, é óbvio que isso ficou complicado. Então, agora fazemos turnês durante determinados períodos. Este ano, decidimos tocar no Brasil, Dinamarca e México. Em 2017, serão 50 datas.

Como escolhem as músicas que vão tocar? O local influencia na escolha do repertório?
É importante que o público tenha uma boa experiência. Portanto, conversamos bastante para decidir o repertório que iremos apresentar em certo país, cidade, local. Não estamos interessados em fazer um show que as pessoas não curtiam. E como temos viajado pelo mundo, sempre tentamos manter os ouvidos abertos e escutar, e nos pegar influências dos lugares para onde vamos.

Por exemplo, há uma parte de uma música em que toco com Cajon [instrumento de percussão de madeira, semelhante a uma caixa]. Percebemos que o famoso funk brasileiro fica perfeito nesse trecho. Então, adaptamos o ritmo original para o funk de vocês. Esse também é uma boa maneira de mostramos respeito e gratidão aos países em que tocamos. Mostrarmos que todos são iguais e que o público é tão valioso para o show quanto os músicos. Um, sem o outro, não há concerto!


SOBRE – Kristian Bugge tem um trabalho extenso na área de música popular da Dinamarca e Escandinávia. Também é professor. Já Ronni Wenzell é conhecido internacionalmente e já se apresentou em diversos países, além de ter ministrado masterclasses em algumas das mais conceituadas escolas do mundo – a Juilliard School of Music (Nova York) e Royal College of Music (Londres). Também dá aulas no Conservatório Brasileiro de Música, no Rio de Janeiro, e é o presidente interino da Sociedade de Artes Percussivas do Brasil.

MOSTRA – O Sesi Piracicaba será uma das 15 unidades da instituição a sediar a 2ª Mostra Sesi-SP de Música Erudita. A proposta é promover o acesso, difundir o conhecimento e formar público. Em todo o estado, a mostra contará com 45 apresentações de 18 grupos de referência na área. Os artistas dialogam com a plateia em diversos momentos sobre o processo de composição, repertório, estilo, período histórico, instrumentação e outros aspectos ligados aos seus trabalhos. Cada cidade receberá uma série temática: Compositores Nacionais, História da Música, A Música pelo Mundo e Crossover. A agenda completa está disponível neste link.

Serviço

II Mostra Sesi-SP de Música Erudita
Show de Wenzell & Bugge
Quando: hoje
Horário: 19h30
Loca: Teatro do Sesi Piracicaba
Endereço: av. Luiz Ralph Benatti, 600 – Vila Industrial
Grátis – ingressos podem ser reservados pelo site www.sesisp.org.br/meu-sesi
Informações: (19) 3403-5940

Veja o Wenzell & Bugge em ação para ir aquecendo. 
 

Comentários

Postagens mais visitadas